quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Morte Reflexiva - o homem e o Maverick

Morte Reflexiva
O homem e o Maverick

Sábado, vinte e duas horas, lua cheia. O homem aproximou-se do seu Maverick. Brilhava como o fogo naquela iluminada noite. Cor vermelha, jante prateada, faróis que iluminavam todo o cruzamento onde estacionado estava, perto do trabalho do tal homem. Às 22h22min, o trânsito parou, um grito ecoou pelas ruas de toda a cidade e a tristeza se instalou por imediato naquele momento. O Maverick vermelho jogara para o ar uma jovem de apenas 23 anos, loira, olhos verdes, carregava livros; parecia ser uma boa pessoa, estudante de psicologia. Não morreu, mas depois daquele instante sua vida jamais seria da mesma forma. Paraplégica, não teria a mesma vida de antes, e não teria a mesma vida o homem do Maverick.
Em profunda depressão, o homem do Maverick não sabia o que fazer. Prejudicara a vida de uma jovem que poderia ter um brilhante futuro; ele nada era, era somente o rapaz do Maverick vermelho. Fora indiciado e condenado á uma pena, porém, como réu primário, recebeu alguns benefícios e foi apenas forçado a prestar serviços comunitários. Era um drama que acabaria num trágico fim como um outro qualquer, mas não ainda, ainda tenho história pra contar. O homem do Maverick não conseguia mais dormir como antes, sonhava nas noites frias e obscuras a cena do atropelamento. A mente do homem estava conturbada, era como um redemoinho que o levava para um abismo infinito. Viajou.
Foram dois meses de viagem para tentar esquecer o ocorrido, porém sem sucesso. O homem do Maverick não achou alternativa, precisava ir a um psicólogo que o orientasse e o ajudasse a esquecer e sanar esse fato. A surpresa estava por vir e iria abalar de vez esse arrasado homem, a psicóloga que o atendera era a própria vítima do atropelamento. Ao avistá-la, pasmo estava, pasmou ficou, não sabia o que dizer. A moça acomodada na sua cadeira aconselhou-o que sentasse e ficasse relaxado. Discutiram um pouco sobre a vida do homem, conversa que protagonizou várias fugas sobre o tema do atropelamento, motivo principal da procura do homem por uma ajuda de um profissional de psicologia. Enfim tocaram no assunto, a mulher não havia guardado rancores, mas, num súbito momento de vingança atropelou o homem com perguntas sobre o acidente, evidenciando o fato do mesmo ser displicente no trânsito e causador de um mal a vida de uma pessoa indefesa. Trocaram palavras em tom alto, o homem se irritou, levantou-se da cadeira de modo que a mesma foi parar no canto da saleta, a mulher retrucava e não temia nenhuma investida do homem do Maverick. O homem tentou dizer algo, mas nesse momento fora interrompido pela mulher que o disse as piores palavras que ele poderia ouvir: - Você destruiu minha vida, você é um monstro, um monstro; aquilo abalou o pobre rapaz, que psicologicamente abatido não teve alternativa a não ser correr para o seu carro e sair disparado para qualquer lugar que o acomodasse. Era domingo, 23:59, não havia alternativa, não houve no que pensasse, atirou-se junto ao bem mais precioso que tinha, o próprio corpo e o seu Maverick vermelhão. Um enorme despenhadeiro engoliu o que restava daquele homem.Suicidou-se.
Adalberto, 39 anos. Profissão: Médico. Hobbie: passear de Maverick.
Mal sabia aquela garota que o mesmo homem que a atropelou e a deixou paraplégica foi o mesmo que impediu a sua morte, pois, o homem do Maverick prestara os primeiros socorros no local do acidente. Agora, estava morto e nada poderia fazer, pois foi ele mesmo quem escolheu o seu FIM.